domingo, 12 de julho de 2009

A crise do Populismo

A crise do populismo
A vida democrática
A assembléia constituinte contou com a participação até dos Partidos Comunistas do Brasil (PCB).Os membros da Assembléia Constituinte elaboram a Constituição de 1964, considera na época, a mais liberal que o Brasil havia tido . Ela estabelecia voto direto e secreto para presidente da República, embora os analfabetos ainda não pudessem votar . Os três poderes ficaram em equilibro. Agora, os trabalhadores tinham o direito de fazer greve sem ir para a cadeia e a imprensa ganhou liberdade para criticar o governo. Entretanto, repare que a constituição não estabelecia direitos trabalhistas para os empregados das fazendas nem mencionava a possibilidade de uma reforma agrária.
Os partidos getulistas: o PSD e o PTB
Entre 1945 e 1964 havia diversos partidos políticos. Os três mais importantes eram o PSD a UDN e o PTB. Dois deles formados por políticos ligados às idéias de Vargas: PSD e o PTB
UDN de Lacerda: a inimiga de Getúlio
Ao contrário do PSD e o do PTB, a UDN (União Democrática Nacional) era totalmente contrária ao getulimos. Ela defendia o liberalismo econômico, ou seja , que houvesse poucas empresas estatais e a mínima intervenção possível do governo na economia. A UDN era antinacionalista. O maior presidente da UDN era o jornalista, empresário e o político carioca Carlos Lacerda.
Querem mudar tudo: os comunistas
O PCB era um partido importante na época. Conquistou o direito de existir legalmente e de participar das eleições. Os comunistas formaram o quarto partido mais votado no país e elegeram Luís Carlo Prestes senador.Todavia , em 1947 o presidente Dutra ordenou o fechamento do PCB. Mais uma vez o partido voltava a ser clandestino.
Governo Doutra
O marechal Eurico Gaspar Doutra foi o primeiro presidente do Brasil eleito com o voto direto e secreto,apoiado pelo PSD e pelo PTB, ambos partidos getulistas. Assumiu a presidência no dia 31 de janeiro de 1946. Dutra aproximou-se dos setores conservadores, incluindo aqueles representados pela UDN, através do chamado Acordo Interpartidário, o que acarretou a marginalização de Vargas e do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), que acabaram por romper com o presidente. O governo Dutra foi marcado, ainda, por uma política econômica conduzida a partir de postulados liberais, pelo rápido esgotamento das reservas cambiais acumuladas durante a guerra e por uma severa política de arrocho salarial. Afastou o país do bloco socialista leste-europeu, inclusive colocando na ilegalidade o Partido Comunista do Brasil (PCB) e rompendo relações diplomáticas com a União Soviética. Definitivamente deve-se a Dutra boa parte da predominância que os Estados Unidos exerceram sobre o Brasil nas décadas seguintes. No plano interno, elaborou o plano SALTE (Saúde, Alimentação, Transporte e Energia), de caráter desenvolvimentista, mas que fracassou e foi abandonado. Iniciou a ligação rodoviária do Rio de Janeiro a São Paulo, através da estrada que hoje é conhecida como Rodovia Presidente Dutra — uma das mais importantes do país.
O ultimo Vargas
Do primeiro ao último dia, teve seu governo marcado pela crise.Quando Getúlio assumiu o governo, o país já estava mergulhado na inflação. A inflação comia os salários e os assalariados não comiam. Com a situação difícil, os trabalhadores partiram para lutar por seus direitos: os sindicados organizaram graves. Em São Paulo, 300 mil operários recusavam-se a trabalhar enquanto não recebessem o aumento de salário para compensar a inflação.Com as fábricas sem operários, os patrões tiveram de aceitar as reivindicações.Para compensar decretou o aumento do salário mínimo. Os patrões estavam irritados com Gétulio porque ele aumentou o salário mínimo e mesmo assim não conseguiu abafar as greves.

O petróleo é nosso
A UDN aceitava que empresas estrangeiras, explorassem o Brasil. Já os nacionalistas do Brasil inteiro organizaram a campanha “O petróleo é Nosso”. Comícios, palestras, artigos de jornal, debates, livros, panfletos, tudo para forçar o governo (o presidente do Congresso Nacional) a criar leis proibindo as empresas estrangeiras de extrair petróleo do Brasil.Aprovado pelo Congresso Nacional, surgiu uma empresa em 1953 , chamada Petrobrás.
Os ataques incessantes
O último governo de Vargas foi marcado pela crise. Do começo ao fim, crise econômica e crise política. Dia após dia crescia o número de inimigos do governo. O nacionalismo varguista começou a ser encarado por um setor da burguesia como algo que estrangulava a economia.
O atentado da Toneleiros
O chamado Crime da Rua Tonelero ocorreu na madrugada do dia 5 de agosto de 1954, na Rua Tonelero, no bairro de Copacabana, na cidade e estado do Rio de Janeiro, no Brasil.
A sua importância decorre do fato de se constituir, na História do Brasil, no marco da derrocada final do presidente Getúlio Vargas, que culminaria com o seu suicídio, a 24 do mesmo mês.
O dito crime, na realidade, foi um atentado contra o jornalista e político conservador Carlos Lacerda, ferrenho opositor de Vargas nas páginas de seu jornal, a Tribuna da Imprensa.
O atentado
Lacerda chegava de automóvel à sua residência situada naquela rua, acompanhado do filho Sérgio e de um segurança, o major da Força Aérea Brasileira Rubens Florentino Vaz, quando dois homens emboscados dispararam contra ele e, em seguida, fugiram de táxi. O jornalista foi atingido por um tiro de raspão no pé, e o major Rubens Vaz faleceu a caminho do hospital.
Na manhã seguinte, Lacerda publicou em seu editorial:
"A visão de Rubens Vaz, na rua, impede-me de analisar a frio, neste momento, a hedionda emboscada desta noite. Mas, perante Deus, acuso um só homem como responsável por esse crime. É o protetor dos ladrões, cuja impunidade lhes dá audácia para atos como os desta noite. Este homem chama-se Getúlio Vargas."
Durante a investigação que se seguiu, demonstrou-se que a bala que atingiu o major era de calibre 45, arma de uso privativo das Forças Armadas. Em poucos dias chegava-se a dois suspeitos: Alcino João Nascimento e Climério Euribes de Almeida, homens da guarda pessoal do presidente, e ao mandante do crime, Gregório Fortunato, chefe da guarda e guarda-costas de Getúlio desde a época do Estado Novo
As consequências
A crise política que se seguiu ao episódio, em particular com os militares incorformados com morte de um dos seus, agravada pelos ataques violentos de Lacerda e seus seguidores ao presidente, sem que houvesse um moderador, agigantou a onda antigetulista. Diante dos pedidos de renúncia à presidência que começaram a se multiplicar, em 23 de agosto o presidente reuniu-se com os seus ministros no Palácio do Catete, a fim de analisar o quadro político. Ficou decidido que o presidente entraria em licença, voltando ao poder quando as investigações sobre o atentado estivesse concluídas. Duas horas mais tarde, quase às cinco horas da manhã do dia 24, Benjamin Vargas, irmão de Getúlio, chegou ao Palácio com a informação de que os militares queriam mesmo a renúncia. Como resposta, ao se retirar para o seu quarto, Getúlio afirmou: "Só morto sairei do Catete!" Momentos mais tarde ouviu-se um tiro: Getúlio estava morto com um tiro no coração.
Alcino foi condenado a 33 anos de prisão, pena depois reduzida. Cumpriu 23 anos e sobreviveu a duas tentativas de assassinato. Gregório foi condenado a 25 anos, vindo a ser assassinado na prisão, assim como Climério, condenado a 33 anos. José Antônio Soares foi condenado a 26 anos. Nelson Raimundo, a 11 anos.
A carta-testamento
Getúlio Vargas
Mais uma vez, a forças e os interesses contra o povo coordenaram-se e novamente se desencadeiam sobre mim. Não me acusam, insultam; não me combatem, caluniam, e não me dão o direito de defesa. Precisam sufocar a minha voz e impedir a minha ação, para que eu não continue a defender, como sempre defendi, o povo e principalmente os humildes.
Sigo o destino que me é imposto. Depois de decênios de domínio e espoliação dos grupos econômicos e financeiros internacionais, fiz-me chefe de uma revolução e venci. Iniciei o trabalho de libertação e instaurei o regime de liberdade social. Tive de renunciar. Voltei ao governo nos braços do povo. A campanha subterrânea dos grupos internacionais aliou-se à dos grupos nacionais revoltados contra o regime de garantia do trabalho. A lei de lucros extraordinários foi detida no Congresso. Contra a justiça da revisão do salário mínimo se desencadearam os ódios. Quis criar liberdade nacional na potencialização das nossas riquezas através da Petrobrás e, mal começa esta a funcionar, a onda de agitação se avoluma. A Eletrobrás foi obstaculada até o desespero. Não querem que o trabalhador seja livre.
Não querem que o povo seja independente. Assumi o Governo dentro da espiral inflacionária que destruía os valores do trabalho. Os lucros das empresas estrangeiras alcançavam até 500% ao ano. Nas declarações de valores do que importávamos existiam fraudes constatadas de mais de 100 milhões de dólares por ano. Veio a crise do café, valorizou-se o nosso principal produto. Tentamos defender seu preço e a resposta foi uma violenta pressão sobre a nossa economia, a ponto de sermos obrigados a ceder.
Tenho lutado mês a mês, dia a dia, hora a hora, resistindo a uma pressão constante, incessante, tudo suportando em silêncio, tudo esquecendo, renunciando a mim mesmo, para defender o povo, que agora se queda desamparado. Nada mais vos posso dar, a não ser meu sangue. Se as aves de rapina querem o sangue de alguém, querem continuar sugando o povo brasileiro, eu ofereço em holocausto a minha vida.
Escolho este meio de estar sempre convosco. Quando vos humilharem, sentireis minha alma sofrendo ao vosso lado. Quando a fome bater à vossa porta, sentireis em vosso peito a energia para a luta por vós e vossos filhos. Quando vos vilipendiarem, sentireis no pensamento a força para a reação. Meu sacrifício vos manterá unidos e meu nome será a vossa bandeira de luta. Cada gota de meu sangue será uma chama imortal na vossa consciência e manterá a vibração sagrada para a resistência. Ao ódio respondo com o perdão.
E aos que pensam que me derrotaram respondo com a minha vitória. Era escravo do povo e hoje me liberto para a vida eterna. Mas esse povo de quem fui escravo não mais será escravo de ninguém. Meu sacrifício ficará para sempre em sua alma e meu sangue será o preço do seu resgate. Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do povo. Tenho lutado de peito aberto. O ódio, as infâmias, a calúnia não abateram meu ânimo. Eu vos dei a minha vida. Agora vos ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na História.
(Rio de Janeiro, 23/08/54 - Getúlio Vargas)

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